Começa pelo nome: Pedro Mafama. Parece sugerir um herói moderno dos bairros históricos de Lisboa.

Segue-se um exercício de posicionamento, assente na reflexão do que é ser lisboeta e português de uma forma aberta e contemporânea, misturando o fado e o folclore com influências musicais árabes, ciganas e africanas.

Destaca-se também a atenção no desenvolvimento de uma estética própria, que integra o design dos álbuns ou a realização dos video-clips, reunindo nomes como André Caniços, Dave Tutti, José Torres ou Bro Cinema. Nada é deixado ao acaso.

E, por fim, identifica-se um propósito claro e corajoso de integração cultural e racial através da música, que já lhe valeu os ataques do costume nas redes sociais.

Nascido em 1992, numa família de artistas plásticos, Pedro Simões, também conhecido por Pedro Mafama, é hoje uma das marcas mais promissoras da música portuguesa.

Além do seu próprio projecto, o antigo aluno da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha tem tido participação na transformação do posicionamento de artistas como Ana Moura, cujo videoclip da música “Andorinhas” ressurge com uma relevância assustadora quando olhamos para os protestos recentes no sul de França e questionamos temas de identidade e integração. Ou falta dela.

A criação de marcas no universo artístico não é um fenómeno novo. Dos Beatles aos ‘little monsters’ de Lady Gaga existem inúmeros casos de sucesso, cada vez mais relevantes num contexto onde as bandas ou músicos vendem, além de concertos, a integração dos fãs em comunidades digitais e no metaverso. Se, no desporto, os nossos maiores atletas estão ainda surpreendentemente distantes das melhores práticas da indústria, na música o fenómeno parece mais maduro. Xutos e Pontapés, a nível nacional e Buraka Som Sistema, em termos internacionais, são as referências do sector.

Pedro Mafama traz o propósito para o centro da construção da sua Marca, alinhado com as boas práticas dos nossos dias. Estes fatores, aliados ao seu talento, ajudaram-no a destacar-se num sector onde muitos artistas e bandas lutam ao desespero pela diferenciação. São brilhantes os episódios em que Pedro Mafama grava o seu videoclip no Preço Certo ou a sua aventura como condutor de TVDE nas ruas de Lisboa, transportando os fãs de um lado para o outro através de interacção nas redes sociais.

A criação de marcas é uma ferramenta crítica para intervenientes de qualquer indústria. Quanto mais cedo os respectivos intervenientes assim o entenderem, mais perto estarão de concretizar todo o seu potencial. Pedro Mafama compreendeu-o na perfeição. Este verão será seu. Olarilalé.